Livro 16/2018 – O Navio dos Mortos, e o meu vício em livros do Rick Riodan

E esta é a primeira postagem que estou escrevendo diretamente para o Rascunhos Abertos.

AVISO: Há 1161 palavras falando da minha história com os livros do Rick Riordan antes de falar efetivamente de O Navio dos Mortos. Se você quiser pular essa parte, procure o “!”

Eu gosto muito de ler. Sempre tenho algo para ler. Mas, até agora, eu nunca tive a ideia de contar quantos livros eu consigo ler durante o ano. Vi alguém fazer isso em janeiro deste ano e, aproveitando que 2018 estava só começando, iniciei a contagem. Eu tenho que conciliar muitas leituras — e também escritas — advindas tanto da minha vontade de consumir literatura, quanto da minha curiosidade sobre as coisas, e demandas da faculdade de Psicologia. Então a minha voracidade ao ler fica um pouco reprimida. Não posso me dar ao luxo de me isolar do mundo por uns dois dias para ler um livro completo. Mesmo assim, consegui ler 16 livros inteiros até o presente momento (considerando 111 capítulos do mangá Shingeki no Kyojin como um livro). Agora que tenho um blog, senti a vontade de falar sobre o último livro lido.

Há quem diga que já se enjoou da “fórmula do menino-deus” do Rick Riordan. Confesso que eu não sou um desses. Assim como o J. R. R. Tolkien escreveu várias histórias em seu universo ficcional, a Terra Média, e assim como há o Universo Expandido de Star Wars, conteúdo baseado na obra cinematográfica de George Lucas, o Rick Riordan criou também o seu próprio universo ficcional extendido. Eu conheci a sua obra através do filme “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” (2010). Sempre gostei de mitologia grega, então eu achei o filme legal. Mas não achei tão legal assim para procurar os livros (ou o autor). Então, quando eu estava no ensino fundamental, a biblioteca da minha escola resolveu premiar os “Leitores Destaque”, os alunos que mais haviam lido livros durante o ano. E o prêmio era algo que só leitores almejavam: um livro. Melhor ainda: era um livro de um gênero que o aluno premiado gosta. Uma das bibliotecárias daquela época, a Roberta, observava quais os livros cada aluno lia e gostava. Então elas tinham uma boa noção do gosto literário de cada um. Foi quando ganhei “As Crônicas de Kane: A Pirâmide Vermelha”, do Rick Riordan. Eu não sabia bem o que esperar. Só sabia que era algo do Egito (óbvio, né? Duh!). Então, uma amiga olhou o livro e me disse:

— Esse autor é legal!

Fiquei mais animado. Então olhei a sinopse na parte de trás do livro e descobri que o Rick Riordan era o autor da série “Percy Jackson e os Olimpianos”. Fiquei: “Uaaaau, então deve ser um livro legal mesmo!”. E, de fato, era. Narração em primeira pessoa, porém, com dois narradores. E eles interferem na narração um do outro. Isso porque o livro é narrado como se fosse a transcrição de um áudio dos irmãos Kane. Achei genial! E, claro, tive o meu primeiro contato com o sumário de um dos livros do Riordan. Não é em todo livro que você lê um capítulo entitulado “Eu encaro o peru assassino”. Bom, logo achei um personagem com o qual me identifiquei MUITO: o Carter Kane. Negro, nerd, e com uma irmã mais nova que não se parece nada com ele. E também tive contato com a minha segunda crush literária da vida: Zia Rashid (que, por sinal, é a garota por quem o Carter se apaixona). Tal qual o nome dos capítulos, o livro é muito bem humorado. Mas, ao mesmo tempo, tem momentos muito emocionantes. É uma aventura que me prendeu da primeira página até a última. E falou de mitologia egípcia! Aprendi bastante sobre o Egito Antigo e sua mitologia através deste livro e dos outros dois, que consegui emprestado para ler assim que foram lançados: “O Trono de Fogo” e “A Sombra da Serpente”.

Não me lembro bem quando foi, mas acredito que seja 2012 ou 2013. Eu estava pensando em reescrever o I-Tec (um projeto antigo e atualmente engavetado, do qual falarei em outra postagem no futuro) e queria ler um livro juvenil que tivesse romance. Eu sabia que o Percy Jackson, nos livros, tinha 12 anos de idade e — ainda no clima do filme — tinha alguma coisa entre a Annabeth Chase (grave este sobrenome) e ele. Então fui atrás de uma amiga que tinha os cinco livros e os peguei emprestado. Ah, como eu estava enganado sobre Percy Jackson. Quando li “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”, vi o quanto o filme é uma porcaria (mas posso falar disso em outro post no futuro). E também vi que não tinha nada entre o Percy Jackson de 12 anos e a Annabeth Chase. Até porque ela estava mais próxima do Luke Castellan e… Melhor parar por aqui.

O importante é que eu peguei a série “Percy Jackson e os Olimpianos” num domingo e, por causa de algumas questões imprevistas, eu precisaria devolvê-la à dona no próximo domingo. Foi quando meus poderes de leitor voraz se manifestaram. Li os cinco livros — e apreciei cada momento de todos eles — em uma semana. Quando li o quinto livro da série, “O Último Olimpiano”, percebi que leria todos os livros deste universo ficcional do Rick Riordan (exceto, talvez, pelos apêndices. Ainda não tive coragem de lê-los). Inclusive, “O Último Olimpiano” é o meu livro favorito do Rick Riordan.

E continuei a ler mesmo. Acompanhei os lançamentos da série “Heróis do Olimpo”. Conheci mais personagens que me cativaram, como o Leo Váldez (gosto mais dele do que do Jason). Inclusive, ao final de “O Sangue do Olimpo”, o Leo dá um susto na gente e nos deixa à deriva… Isso é um fator importante na história. Parecia que o universo do Riordan iria parar ali, mas o Leo já me dava umas pistas de que tinha mais coisas vindo. Saíram três contos crossover entre Percy Jackson e os Kane (LÓGICO QUE LI! Carter Kane e Percy Jackson no mesmo lugar? ÉPICO!). E, finalmente, saíram rumores de que o “tio Rick” estaria escrevendo uma série sobre mitologia nórdica.

A surpresa foi em dose dupla. Foram lançados dois livros no mesmo intervalo de tempo. Duas novas trilogias. “Magnus Chase e os Deuses de Asgard” (com o primeiro livro, “A Espada do Verão”) e “As Provações de Apolo” (com o primeiro livro, “O Oráculo Oculto”). E é claro que eu quis acompanhar cada uma delas.

Bom, antes de continuar, vou informá-los sobre a cronologia de tantas histórias. Para uma cronologia mais precisa, é melhor consultar este site. Mas, como leitor fã deste universo ficcional do Rick Riordan, posso resumir. A primeira série de todas é “Percy Jackson e os Olimpianos” (Cinco livros, mundo grego). É a mais antiga. Logo depois, duas séries acontecem ao mesmo tempo: “Heróis do Olimpo” (Cinco livros, mundo greco-romano) e “As Crônicas de Kane” (Três livros, duat egípcio). Então vêm os contos crossover entre Percy Jackson e Os Kane (Três contos em ebook, mundo greco-romano e egípcio). E aí chegam as atuais trilogias: “As Provações de Apolo” (Três livros, mundo greco-romano) e “Magnus Chase e os Deuses de Asgard” (Três livros, nove mundos nórdicos).

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Agora vou falar do livro 16/2018. “O Navio dos Mortos” é o terceiro livro da série “Magnus Chase e os deuses de Asgard”. Lembra quando eu pedi para decorarem o nome da filha de Atena e minha personagem favorita do Rick Riordan (empatada talvez com o Carter Kane), Annabeth Chase? Chase? Isso mesmo, ela e o Magnus Chase possuem uma ligação: são primos. Ou seja, esta é a história do primo sem-teto da Annabeth. O Magnus Chase é um sem-teto com um tio rico malucão das ideias, o tio Randolph (que não é o pai da Annabeth). Então já vimos que ele é sem-teto principalmente porque não se dá bem com este tio. Mas o Magnus — o mendigo cover do Kurt Cobain — foi parar nas ruas após a sua mãe ser assassinada por lobos (isso aconteceu aproximadamente entre os eventos de “A Batalha do Labirinto” e “O Último Olimpiano”). Muita coisa estranha acontece no primeiro capítulo de “A Espada do Verão”, mas a coisa mais importante é que o Magnus morre.

Isso mesmo. Estamos falando de uma história onde o personagem principal morre no início.

A partir daí ele se torna um einherji — um dos guerreiros de Odin vivendo seu pós-vida em Valhala esperando a Guerra do Fim do Mundo Nórdico, o Ragnarök. Isso porque ele morreu ao salvar uma criança do ataque de Surt, o Gigante de Fogo de Muspelheim. E, a partir daí, ele e seus amigos terão de realizar esforços heróicos (leia-se absurdos) para adiar o Ragnarök.

Gostei muito de “O Navio dos Mortos” por muitas razões. Aliás, o nome do primeiro capítulo é “Percy Jackson se esforça ao máximo para me matar”. Mas além disso, fica nítido ao longo da história algo relativamente novo nas histórias do Riordan. Eu já imaginava que isso iria acontecer desde o segundo livro da série, “O Martelo de Thor”, quando a/o personagem em questão entrou. Trata-se de Alex Fierro, cuja mãe é Loki. Isso mesmo! A MÃE! Acontece que Alex e Loki são argr, ou seja, possuem gênero fluido. O legal do conceito é que eles possuem o gênero fluido até BIOLOGICAMENTE (se Loki engravidou de Alex, não se fala apenas de identidade de gênero). E rola algo entre o Magnus e Alex. O Riordan já havia colocado relacionamentos não-heterossexuais em outros dos seus livros, como o relacionamento de Nico diAngelo e Will Solace. Mas há um diferencial com relação a “O Navio dos Mortos”. O primeiro é essa incrível jogada de colocar o gênero fluido como parte da contextualização mitológica da série (isso é plausível na mitologia nórdica).

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Mas o shipp da vez não é Magnus e Alex. Mas sim Jacques e Contracorrente.

Também tem a outra filha de Loki, a Samirah. O lance da Samirah é que ela é muçulmana. Inclusive, durante todo o livro a Samirah se encontra em jejum do ramadã. Existe também o Thomas Jefferson Jr., um negro que morreu lutando na Guerra Civil Americana pelo Exército da União. E o Magnus é um ex-sem-teto ateu. E todos eles estão vivendo na mesma equipe e dentro da mitologia nórdica. Se observarmos, são todos personagens que sofrem discriminações. Muçulmanos, negros, sem-teto, gêneros fluidos, anões (Blitzen) e deficientes (Hearthstone). E tudo isso é descrito de uma maneira muito natural e engraçada. Há até uma parte em que a Samirah fala Allahu Akbar, e, embora o Magnus comente sobre os comentários xenófobos, ele demonstra muito respeito pela religião de sua amiga.

Outro ponto positivíssimo é que, nos livros anteriores, a história focou apenas em parte da equipe do Magnus. Conhecemos melhor ele próprio, o Blitzen, o Hearthstone (cuja história com o pai se encerra em “O Navio dos Mortos”. Anéis te transformam em dragões, não em golluns), e a Samirah. Dada à sua importância no segundo livro, conhecemos melhor também sobre Alex Fierro. Mas quanto aos outros amigos do andar dezenove, só passamos a conhecer agora. Temos os detalhes de como foi a morte de T.J., a ascenção e morte do Mestiço Gunderman (ELE LUTOU AO LADO DO IVAR, O SEM OSSOS! FOOODA), e também temos a história verdadeira da Mallory Keen — além de descobrirmos quem é sua mãe.

Ah, e claro. A batalha final. Esperávamos apenas pancadaria, mas não é este o ápice. É UM VITUPÉRIO. UMA GUERRA DE INSULTOS. O que esperar de uma luta entre Loki e Magnus Chase?

O final tem um diálogo com a Annabeth que dá a entender que não está tudo bem no mundo greco-romano. Isso eu só vou descobrir no último livro de “As Provações de Apolo”. Mas, por hora, deixo apenas a recomendação do meu livro 16/2018. Não acho que terá mais livros da mitologia nórdica. Mesmo assim, o Magnus Chase tem mais uma missão a fazer antes do Ragnarök. Ele precisa pedir ao deus da poesia Bragi para compor uma balada para Jacques, a Sumarbrander. Talvez o Riordan escreva um conto… Talvez alguém escreva sob o selo dele… OU TALVEZ SEJA UMA OPORTUNIDADE PARA AS FANFICTIONS (sobre as quais ainda falarei em outra postagem).

Enfim, o importante agora é que ainda teremos muito tempo para mais livros, mais postagens, e mais novidades no Rascunhos Abertos. Tudo isso porque o Magnus Chase e seus amigos gentilmente adiaram o Ragnarök.

Allahu Akbar.

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